domingo, 13 de fevereiro de 2011

Cheiro

Cheiras a cama,
Cheiras mal,
Cheiras a sexo mal lavado
e a quarto sujo e cheio
de coisas vazias.

Gosto do teu cheiro,
cheiras a cão.

E por mais banhos que tomes
não te livres do cheiro
que me vai atormentar
por tempo indefinido.

Eu não tenho cheiro,
Cheiro a mim,
que não cheira a nada.
Cheira a vazio de coisas cheias.

Temos o mesmo cheiro,
mas eu não o sei disfarçar...

Podemos tomar banho juntos,
pode ser que o cheiro passe.

Fósforo

Volta ao sítio
E caminha por entre os arbustos
Que escondem o que eu já sei.
Apaga as luzes, sopra os fósforos
Onde tanto me queimei.

E queimo outra vez.

Até os meus dedos ficarem pretos
E as minhas unhas cairem
De tantas noites e palavras
Que afinal não incendiei.

Mas escrevi tudo,

Embora nunca te tenha dito nada.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Casa de Alterne

Alterno entre tu e tu,
Ele e ele, conforme os dias,
E perco-me sempre no mesmo.

Alternas entre vinte coisas
Que nem mulheres são,
Alternas entre tantos prantos
E vives tudo outra vez.

Eu também.

O alterne não pára,
A casa sou eu...

Mas ninguém volta.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Espanhol

De manhã pesa-me os olhos
Entre verbos e acentos
À noite rouba-me o dormir
Embebido em fumos lentos.

Já não posso ouvir mais
E desligo o que não devia
Em quatro pesadas horas,

Mas não fecho a porta do quarto
Mesmo quando te demoras,
Porque sei que não me farto
E que são só mais uns dias.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Frigorífico

Abro os Pulmões

Abro os pulmões e
a minha mente
para o tempo quente
que aí vem.

Com as luzes desligadas
e as promessas quebradas,
em mares de cetim e algodão.

Mas não, as paredes fazem-se celas,
E nem as minhas velas
acendem o escuro da solidão.

E voar sozinha cansa,
entre as sombras de crianças
e o latido de um cão.

Então vem e faz-me vir
E perde-te na dança acelerada,
que já é de madrugada
e eu tenho que dormir.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tédio

Aborrecimento, tédio.

Fecham-se os olhos e perdem-se nas palavras
que já quis dizer,
encontrando-se depois
em frases sem sentido.
Desordenadas, coladas cuidadosamente
no frio da tua voz.

Caem.

E eu apanho-as uma por uma
e volto a colá-las mais forte,
à bruta, com violência.

Ficam fixas desta vez,
Mas continuam a não fazer sentido.

E eu continuo
aborrecida.

                                                           cozinha

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cadáver

Dás-me náuseas.

Vomito sempre quatro, cinco, seis...
                              ...Já lhes perdi a conta
Cadáveres nocturnos.
Todos de uma vez.

Mas por mais que vomite
a liberdade não volta,
Os cadáveres sim.

Costumava acreditar na liberdade
e na morte definitiva.

Depois acreditei em ti.
Agora não acredito em nada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Seis Anos

Não sei com que intenção nem com que propósito, mas vieste-me à mente no meio de uma conversa nocturna no fundo de um copo de rum. Não interessa, eu sei que não vens, nunca vens nem hás-de vir. Não vou ser eu a endireitar o teu espírito retorcido, nunca fui.

E no meio das tuas bipolaridades encontro as minhas, embora nunca o vá admitir. No meio da tua imundice encontro os restos mortais dos meus lençóis brancos que nunca chegaram a estar sujos.Encontro os meus pecados, sempre assim foi. E vai ser sempre assim, vais ser sempre tu.

Felizmente nada é verdade, nem tu, nem eu, nem nós, nem as saudades.
 
Foi sempre assim, és sujo. E eu também.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ricardo

A tua barba arranhava
Em aventuras incorrectas,
Sítios que eu tanto queria
Com as línguas feitas setas.

Não fosse a tua cara feia,
Os traços rudes de magreza
Não me perdia na teia
De estrangeira estranheza.

As vezes que já se fechou
O olho sujo de traição,
Todos os dias me dou
Na minha cabeça, em vão.

Ai Ricardo, se soubesses
A agonia que me trazes
Quando oiço os lábios finos
Proferir malditas frases...

A garganta não segura
O meu coração a cem
E heis-que o silêncio perfura
Para o nosso próprio bem

Fosse Ricardo o teu nome
Ou o meu inglês perfeito
Matava esta minha fome
E calava-te no leito.

(Março 2009)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ruído

O ruído voltou
O sono não vem,
Outros males inundam a minha cama.

Porque o tempo,
Relativo ou não,
Faz-se tarde...

Mas o sol sempre espera por nós.

Hoje é outro dia.

A manhã apressa-se sobre nós
E bebe o tempo
Em duas chávenas de chá.

Penetra um raio de luz
Acendendo timidamente
Os destroços do meu quarto abandonado...

Cega-me. Segue-me. Senta-te.

Hoje é outra noite.

Cozinha

Um dia.

Um dia soltam-se os pecados,
As verdades, as blasfémias,
Os venenos tão recentes
Que poluem as artérias

E sou eu e tu
É a janela aberta
E um cinzeiro comum
Entre a roupa lavada
Vão-se desenhando bestas
Na paixão inebriada.

Quando me entenderes,
Um dia.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poluição


Entre o fumo quente do cigarro
Vou desfolhando flores bravas e pensamentos perversos
De sentimentos que nunca chegaram sequer a doer de verdade

Faz frio.
Não há centelha de luz que penetre no meu quarto
E rompa com a escuridão da minha alma.
Sujaste tudo em teu redor, quebraste purezas.

Inspiro fundo, o ar continua negro
Mas já não és tu quem o polui.