quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Puta

A puta,
enfrascada em litros
do vinho mais barato,
refinada formosura
entre os seus refegos imundos
desde os seios descaídos
aos recantos profundos
dos buracos negros
que guarda carinhosamente
para si e toda a gente.

O fantasma omnipresente
de olhos despertos
esbugalhados e apaixonantes
chora álcool e sais,
saem fluxos corporais
leites azedos e outros que tais
reflectindo a redonda figura
no chão sujo da cozinha.

Na tempestade que se avizinha,
puta astuta,
fera gorda de estranhos costumes...
Lábios vermelhos e inchados
constantemente humedecidos.
Como brilha a puta amada,
sempre a mais amargurada
de tentáculos erectos
e rectos princípios
quebrados por ela apenas.

Glória, glória
dos nossos tempos,
veias fracas venenosas...
contento de homens e mulheres perdidas,
como te quereríamos provar
não estivesses tu já murcha
e tão mal e porcamente
fodida.

O meu amor piramidal

O meu amor piramidal
de papel e cartão
ora pairando em nuvens brancas
ora espalhado pelo chão.

Encontro-me nas tuas pernas descarnadas
e sinto os ouvidos entupidos
com sangue coagulado
pelos meus próprios silêncios enigmáticos
que com beijos asmáticos tentas contrariar.

Mas depois de tudo,
desejos flutuantes e instintos animais
somos os mesmos chacais que antes
com dentes afiados,
assassinos sem descanso
com inseguranças de gente grande.

E só tu,
mesmo sem vinhos ou fumos
fazes com que me perca
sem outro sabor
ou outra tela
que não o teu semén
elegantemente distribuído
pelos pequenos seios
que não ousas maltratar.