sábado, 20 de agosto de 2016

Regresso


Começa assim,
com as minhas mil mortes e mais uma
entre chocolates e cravos caídos,
o fim de outro mundo perdido em tantos
sem tempo para prantos nem lembranças.

Mas no momento de apertar a tua mão pálida
a tremer gemidos de ressurreição
quis a razão ou a esperança
que eu fosse engolida sem perdão
e fizesse das minhas mágoas prazeres.

Passeio o cadáver pela cidade,
agora necrópole crepitante
descarnando a cada passo
a agonia balbuciante
da saudade do teu abraço.
Levo ainda no regaço aconchegado
o cheiro a cabelo suado
que me deixaste nos lençóis
e os teus olhos feitos faróis
fixos na catarse do reencontro
humedecidos pelo luto iminente.

E afogo
nas águas escuras da ambivalência
a minha preferência pelo desvario
e a inevitabilidade da revolução
com o sufoco na garganta
de quem não canta por embaraço
e se enrola vezes sem fim
nas ondas frias da dormência e do cansaço
espumando a minha perpétua insatisfação.





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