Acordei com vontade de vomitar. Lisboa está espectacularmente feia hoje, há lixo por todo o lado e o cheiro nauseabundo, quase adocicado, é acentuado pelo calor que se faz sentir. Cá dentro também cheira mal, não sei se dos bancos se das pessoas.
O condutor do autocarro insiste em estalar os dedos a um ritmo irritante; entra um pica com um anel gordo no dedo mindinho, depois outros três. Um maluco qualquer grita "Há quatro chulos no autocarro!". Entretanto a mulher que está agarrada ao varão ao lado do meu banco não pára de mastigar pastilha elástica, tem o cabelo pintado de loiro quase palha, com raízes pretas e brancas, um top verde alface e calças de ganga descaídas, os 50 anos de pele saem por todo o lado; consigo ouvir o colar e descolar do cuspo na boca dela. Entra um aleijado que nem é capaz de pôr-se de pé, anda agachado, com as mãos a agarrar os pés, obrigando-os a mexer.
Lá fora, prédios descascados, uns em construção, outros em ruínas. É engraçado como as coisas funcionam. E eu que me sentei, como sempre, no banco da frente, para ver as coisas e as pessoas entrarem...e para depois deixar de as ver. Mas depois penso...ainda bem que há coisas tão feias. Sobre as bonitas já está tudo escrito.
terça-feira, 19 de junho de 2012
sábado, 9 de junho de 2012
Sem Título
Subitamente as copas das árvores e as nuvens pareceram-me montanhas cobertas de neve. Eu, tal como tu, nunca existi, apenas em sonhos. Lembras-te de passearmos de mão dada no meio do nada, naquele espaço em branco entre a praça deserta e a guerra de lama na outra ponta da casa, de pintarmos os nossos corpos e de vermos a tinta a derreter lentamente no sol do meio-dia, do sal nos nossos lábios cheios de feridas abertas, de tão secos que estavam? Eu também não.
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