sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Los arboles de mi jardín


Que los arboles de mi jardín
me asombren todas las noches de insomnio
en que no tengo tu presencia entre las sabanas.
Que me griten los coches
en las tardes en que tus pestanas
no me hacen cosquillas en los ojos.
Que me atropelle la gente en la calle
y me peguen en la cara
que se me ponga fea y entre en fétida putrefacción
que mis labios lloren sangre y carbón
entre las páginas de tus libros
y que la saliva de mi lengua
se transforme gradualmente en arena oscura y seca.
Que mi cabello se haga lluvia y mis senos días claros
para que tus fardos sean menos
y tus noches te descansen
hasta que llegue mi fado
y se desnude lentamente
en cada lunar de tu espalda,
despertando sentidos durmientes.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Vem

Vem que tenho sede
e já nada me sai bem.
Vem e prende-me os cabelos
sem os zelos que outros têm.
Vem e crava-me a navalha
até ao beco mais distante.
Vem e entra de rompante,
arromba as portas de mansinho
que já sabes o caminho
entre comportas canibais.
Vem de cima para baixo
ou de baixo para cima...
não há vergonha de menina
nestes seios de criança
e a dança que preciso
já não consigo sozinha.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Minha Rua

A minha rua cheira a café torrado
e a copos de leite derramados por amigos.
A minha rua cheira a velho
e mijo de cães vadios perdidos no caminho.
A minha rua cheira a árvores e bolotas,
cheira a botas mal lavadas
pela chuva que cai de vez em quando.
A minha rua é violenta
e tem pombos nos passeios,
a calçada é cinzenta
e o sol não chega nunca. 
Na minha rua a gente passa
com o passo apressado,
na esperança crua e lenta
de chegar ao outro lado.
A minha rua tem faróis e nevoeiros,
tem ventos passageiros
por entre as casas de betão. 
 A minha rua é igual a todas
e todas as ruas são iguais à minha…
O que tinha esta partiu para parte incerta
e afogou-se noutra lama.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Reflexo é Negro

O reflexo é negro meu amor,
sem fundo
nem ondas à vista...
E não há artista que nos salve
nem toques de tambor
que nos alimentem a alma.

Os ritmos selvagens
já há muito
que deixaram de marcar o meu.
Quero a casa e o cão
que me prometeste um dia,
num futuro distante
pouco ou nada concretizável
por mentes distorcidas e indecisas
como as nossas.

Mas mesmo assim
não há festim como o nosso
e o alvoroço que sentimos
é uma brisa passageira.